segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Magias

Todos os anos se faz por esta altura nas Cortes a festa em honra a S. Sebastião, um comandante romano que se converteu ao cristianismo e foi morto pelos seus próprios soldados quando ainda era muito jovem, pelos rapazes e raparigas que completam nesse ano 20 anos. A de 2006 foi no fim-de-semana passado. Esta é uma festa que prima por alguma originalidade, apesar da inesperiência dos festeiros estreantes.

O convidado que se destacava no cartaz era um padre mágico, um sacerdote com barbas já grisalhas, aspecto robusto e olhar maroto. A sua actuação começou com ilusionismo simples: as argolas de ferro que não entram umas nas outras e que com um sopro ficam todas ligadas; um tubo onde entrava uma espécie de esfregão de uma cor e o que saía era de outra; o paninho que se tira de um frasquinho e que reaparece sem que se saiba como; a multiplicação de notas em que, de dez, tirava três e voltava a contar sempre 10 notas...

Mas o que mais fascinou quem estava naquela noite gelada a assistir ao espectáculo foi o número de hipnose. Sete rapazes valerosos e uma menina pequenina ofereceram-se. Estavam na brincadeira, quase a gozar com o senhor por não acreditarem, talvez, que ele os iria conseguir hipnotizar. Ele explicou o que ia fazer, para que as pessoas nem tivessem medo nem ficassem com ideias erradas sobre a hipnose. No fundo iriam entrar num sono e fazer depois coisas por sugestão do hipnotizador. Antes de mais, pés encostados e braços descaídos ao lado do tronco.

Um a um fê-los cair ligeiramente para a frente, seguindo o seu dedo. Surpreendia-os, ao parecer que estava a hipnotisar um, estava a focar a atenção dos outros que, com um olhar breve de olhos arregalados e uma passagem da mão pelos olhos estava já pronto para fazer o que se lhe mandasse.

Matar a mosca, bofeteando-se a si mesmos, enquanto fingiam que dormiam, em pé, com a cabeça apoiada numa mão. Simular o trânsito, com um a fazer de polícia sinaleiro (com apito e tudo) e outros a fazer o barulho de carros e motas: quando estes "aceleravam" o polícia apitava e gesticulava freneticamente. Três rapazes que, como se fossem bebés, choravam se lhe tiravam a chupeta que tinham na boca; quando o hipnotisador os acordou riram-se dos outros terem uma chupeta na boca, sem se aperceberem que eles próprios também tinham uma. Ou então todos a dançar, rapazes com rapazes (ele tinha pedido rapazes e raparigas, mas só foram rapazes e uma menina pequena!), bastante agarrados e ondulantes, por sinal. Claro que se repugnavam e afastavam dos seus pares quando acordavam.

Para o final, mandou o público abrir uma ala para deixar passar a banda dele. Com este mote pô-los a fingir que tocavam instrumentos musicais numa banda rock, com o baterista, vários guitarristas e uma teclista. Entretanto a música que se ouvia mudou para música de banda filarmónica e também eles mudaram logo os seus gestos, passando a fingir que tocavam um qualquer instrumento de sopro. A menina passou a ser a maestrina, com a batuta na mão a reger ritmadamente aqueles músicos que se balançavam e expressavam o seu virtuosismo musical. Estava ali uma banda mesmo castiça.

Os desgraçados que se sujeitaram à hipnose é que vão ser gozados por terem feito figuras que não se lembrarão que fizeram.

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