quinta-feira, setembro 18, 2003

Finalmente, passadas quatro semanas da minha chegada a Maastricht, decidi-me escrever umas palavrinhas para me entreter agora e recordar depois. Passadas estas quatro semanas, parece que a minha vida sempre foi aqui. No entanto, por outro lado, parece que foi ainda ontem que chegámos, tão nítidas permanecem essas imagens na memória. Ou talvez seja por esses primeiros dias terem sido fantásticos e irrepetíveis.

O trajecto até Maastricht (todos pensam logo no tratado de há onze anos atrás!) foi feito de carro, duas famílias juntas: os meus pais, os do Nuno (sim, o meu colega de quarto) e o irmão dele. Durante sete dias atravessamos a Europa necessária para chegar aqui a Maastricht. Espanha, França e Bélgica. Para a paisagem não ser sempre alcatrão, parávamos de vez em quando, que não havia pressas, apreciando o que o merecia.

Chegados a Maastricht, na quarta-feira dia 20 de Agosto, um dia antes da data acordada para o check-in, foi a confusão total. Indicações em holandês, bicicletas que não paravam nas rotundas, o mapa que não se percebia… O certo é que depois de termos andado literalmente em becos, principalmente em França, não conseguíamos ter sucesso na simples tarefa de chegar ao Hotel (para já não falar da Universidade!).

Então na manhã do fatídico dia 21 de Agosto, antes da despedida, descarregar as malas (a pergunta que surgia era como é que levávamos aquilo tudo para Portugal) e fazer as compras gerais. Desde a ajuda singela na escolha do melhor arroz até ao puxar pela nota ali na caixa, o contributo dos pais foi útil. Depois da despedida, dois marmanjos de Leiria ali numa residência de estudantes quase deserta, numa cidade desconhecida.

Para conhecer a cidade demos uns breves passeios até ao centro da cidade, à beira do rio Maas, sempre com mapa na mão. Na rua só se viam estudantes em festa, muitos deles vestidos com t-shirts iguais. Era, como supusemos, a introduction week para os holandeses, uma espécie de recepção ao caloiro loiro e de olhos azuis!

E eis que chega a Inkom week: a semana de introdução para os alunos estrangeiros, ERASMUS e não só. Uma semana cheia de actividades preparadas pelo ESN (Erasmus Student Network) para as pessoas naturalmente se conhecerem umas às outras e um pouco da Holanda.

Então logo na segunda-feira o City-Tour pelas ruas de Maastricht realçando os pontos principais. Não se pode ir a Maastricht sem conhecer a história do Pika, um menino pobre que tinha por única companhia o seu cão. Quem no-la contou foi o Dennis, um membro do ESN, de forma bastante expressiva. O percurso acabava no bar mais “internacional” de Maastricht, por ser lá que a maior parte dos estudantes estrangeiros se encontram. Foi no Twee Heren que jantámos e passámos boa parte do serão. Houve um concurso para ver quem bebia cerveja mais depressa e uma equipa intitulada “Tugas” ficou bem classificada!

Mas na quinta-feira veio uma dose maior: o Pub-Crawl, uma espécie de rally das tascas. Era simples e o objectivo era dar a conhecer os bares mais interessantes de Maastricht. Então em cada um havia uma bebida e estávamos um bocado, depois passávamos para outro. Foi uma noite bastante interessante!

Porém, no dia seguinte de manhã cedo houve apresentação na Universidade de Maastricht, a tal. O “Introduction Day” foi um dia inteiro de explicação do que se iria passar ao longo do semestre, como seriam as aulas e onde eram os edifícios relevantes, com destaque para a biblioteca de grande qualidade.

À noite, barbecue e sessão de cinema, supostamente ao ar livre, mas dada a imprevisibilidade do tempo holandês, ameaçando chover, foram ambas feitas debaixo de telha, num bar já então familiar. E foi de se lhe tirar o chapéu!

Como Maastricht já começava a ficar batido, fomos para Norte, para continuarmos na Holanda, e visitámos Utrecht. Lá encontra-se o edifício mais alto da Holanda com cento e poucos metros de altura e vários séculos de história. Continua a ser o mais alto porque foi feita uma lei a proibir a construção de prédios mais altos que aquela torre. Uma boa maneira de manter o record! E de facto é alto; pelo foi a impressão que tive depois de subir mais de 500 degraus em caracol onde mal cabia a ponta do pé!

No Domingo mais um passeio, desta feita a Valkenburg, não muito longe de Maastricht. Esta cidade tinha a particularidade de ter um pequeno monte, coisa rara na Holanda, e, segundo os do ESN nos diziam era dos mais altos. Não era mais alto que o cabeço onde está o castelo de Leiria! Apesar disso, tinha uma pista tipo tubogan, mas com uns carrinhos nos quais podíamos travar… mas quase não era preciso.

Vimos também umas minas de carvão extintas. Depois dum filme elucidativo de como era o trabalho na mina enquanto activa, percorremos alguns túneis, durante os quais, de vez em quando, tínhamos o “prazer” de ver como era o nível de ruído quando a mina estava activa, assim que o guia ligava as máquinas. Ah, e os mineiros estavam proibidos de usar protecções para os ouvidos! Para se ouvirem uns aos outros no meio do barulho. Parece contraditório, mas de facto era a única maneira. Foi realmente impressionante ter uma ideia de como trabalhavam os mineiros, através de um antigo mineiro.
E com isto o último dia de Agosto cedeu lugar ao primeiro de Setembro, o que se traduziu também no primeiro de aulas. Mesmo sendo introdutória nada impediu o professor de começar a dar matéria.

Para descontrair da aula, uma pequena visita à maior rede de túneis da Holanda. De facto é possível entrar em Maastricht e sair em Amesterdão ou Bruxelas, por exemplo. Eram umas minas de uma pedra mais macia que o calcário, abundante nestas paragens. Era um emaranhado labiríntico de túneis que, mesmo havendo mapa, era preciso conhecê-lo bem para sair dali.

Normalmente a terça-feira é o dia forte para sair à noite, pelo menos para os Erasmus. Então a última actividade da Inkon week proposta pelo ESN era nem mais nem menos que uma grande festa numa discoteca de luxo, numa terça-feira. Pode-se dizer que encerraram com chave de ouro, apesar de não se ter realizado o acampamento tropical de três dias que prometiam, por o dono da quinta para onde íamos ter adoecido.

Então o fim-de-semana não foi passado a olhar para as moscas (também não tenho visto aqui muitas). Na sexta-feira estive num jantar com pessoas do Arc, o edifício de 11 andares da Guesthouse (a residência), do qual se vê a cidade inteira, e onde mora o Miguel, o português que nos convidou para o jantar. Entre outras coisas que se passaram, fiz novos conhecimentos, nomeadamente fora da área económica, que domina completamente a Guesthouse. Logo no dia a seguir fomos nós que os convidamos para jantar.

Já que estamos tão perto, aproveitámos o sábado para ir à Alemanha, a Aachen. Tem um centro histórico bastante interessante e muitas estátuas interactivas, feitas para serem mexidas. E para se tirarem fotografias nas mais estranhas poses! Em geral bastante interessante, mas significativamente diferente da Holanda, a começar pelo facto de na estação de comboios as pessoas não compreenderem o inglês.

Deve ser tradição portuguesa, talvez, mas no espaçoso quarto duplo P3-00-06 (o meu) já se realizaram vários jantares importantes. Merece destaque o último, até agora, com todos os portugueses e todos os membros do ESN numa espécie de agradecimento pelas actividades e pela maneira como as proporcionaram. Ao todo eram 18 bocas a comer o belo “arroz com todos” e a beber vinho português, comprado no Albert Hein, o Continente daqui. Mas que belo jantar.
Depois, como não pôde deixar de ser, uma incursão ao centro da cidade, para abanar um bocado o capacete. Como dia não são dias e estávamos em fim-de-semana, ficámos até um pouco mais tarde. Foi um bom serão!

Superado este passo de falar sobre o que até agora se passou, mesmo que por alto, fica a actualização mais ou menos rotineira deste bloggue.

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