quarta-feira, novembro 26, 2003

Locais secretos

Quem é que, pelo menos em infância, não teve aquele sítio especial para onde gostava de ir quando estava alegre ou triste ou pura e simplesmente para lá estar um pouco, como se de um refúgio se tratasse? O local mais banal que para nós se tornava único e especial…

Eu tive vários. O mais interessante dos quais à beira do rio que passa perto de minha casa, o Lis ainda jovem, em que eu e o meu primo Fernando descíamos a margem íngreme até à beira da água e seguíamos durante cerca de 100m à beirinha da água, sem saber a profundidade, mas adivinhando-a considerável, e passando por diversos obstáculos, desde troncos de árvores por cima dos quais tínhamos de passar sem cair para a água, zonas de lodo, escorregadias, uma parte com uma saliência de uns dez centímetros em que tínhamos de ir encostados à margem vertical de terra estilo Indiana Jones e, enfim, lá se chegava depois de tanto esforço a uma pequena clareira com um canavial tombado pelo vento de tal forma que parecia a concha da mão, uma espécie de abrigo, que nada tinha de especial, a não ser para nós. Então começámos a ir para lá todos os dias, levávamos uma manta, rádio a pilhas, baralho de cartas e muitas vezes o que fazíamos era estar ali, naquelas férias grandes dos tempos do ciclo, deitados de papo para o ar, apenas a apreciar o presente e a saborear a Natureza.

O tempo não existia para nós. Os dias eram infindáveis e em cada um uma miríade de pequenas coisas eram feitas com tanto entusiasmo que até contagiavam… naquele local nosso que era secreto nas nossas cabeças.

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