sexta-feira, dezembro 12, 2003

Roma

Peripécias. Incríveis foram as coisas que nos aconteceram, para não falar da sua frequência, nestes dias em que fomos para Roma. Nem a presença do Papa por perto nos valeu uma bênção!

Começou logo bem o rol de pequenas coisas que se tornam inesquecíveis numa viagem já de si inesquecível. Na sucessão aurocarro para a estação de comboios de Maastricht, comboio para Liége e daí para Bruxelas-Charleroi, autocarro dessa estação para o aeroporto, a probabilidade de apanhar tudo enfileirado não era muito favorável e lá se acabaram os autocarros, um quarto de hora depois de termos chegado à já erma paragem por onde eles passavam.

A solução, nestes casos é simples, pois é a única, foi chamar um táxi, pois o aeroporto ainda fica longe dali. Gritando não ajudaria muito e de táxis só se via a placa indicando o local onde normalmente deveriam estar. Não sei se será uma lei de Murphy, mas as coisas nunca estão onde deviam quando precisamos delas!

Entretanto conhecemos umas raparigas que também estavam a fazer Erasmus, também iam apanhar o avião das 6:30 da manhã e, por isso, dormir no aeroporto, também tinham perdido o autocarro e também, delas, uma era de Portugal! Que grande coincidência… ou talvez não. Acabaram por “dormir” perto de nós dividindo-nos apenas um placar publicitário.

Finalmente lá apareceu o táxi que nos conduziu ao aeroporto onde iríamos tentar dormir enquanto esperávamos pelo check-in, por voltas das 4:30. O aeroporto era bastante pequeno e todos os bancos, ao contrário do que estávamos à espera, já estavam ocupados e mesmo os melhores pedaços de chão já eram aquecidos e limpos por algum casaco ou calças mais impacientes. Lá nos arranjámos e esperamos, tentando dormir, apesar de a Carla, a portuguesa que insolitamente conhecemos, insistir em conversar mesmo vendo os nossos olhos a fecharem-se e a nossa boca a abrir-se de sono!

De manhã cedo (é bastante optimista chamar àquilo manhã, mas pronto!), lá fizemos o check-in, entrámos na sala de espera e fizemos o que era suposto: esperámos. Devemos ter esperado mesmo muito, pois lembro-me de ter adormecido esticado em cima de três bancos, com a sala vazia, e acordar com todos os bancos cheios, pessoas em pé, outras sentadas no chão e eu, qual lorde, esticado sobre três bancos! Pena foi que toda esta espera fosse em vão. Por volta das 10:30, depois de sucessivos atrasos por mau tempo (estava bastante nevoeiro), resolveram cancelar o voo! Então e agora? Por sorte lá conseguimos bilhete para o avião da tarde, às 18:30.

Como não havia nada a fazer senão conformarmo-nos com o sucedido, escrevemos um e-mail, numas máquinas que lá haviam com teclas rígidas e trocadas na sua ordem para que mais dinheiro se gastasse com elas, para a residência onde ficaríamos a dizer que chegaríamos tarde, como pediam que fizéssemos caso chegássemos atrasados.

Descansadinhos fomos para o restaurante do aeroporto para comer algo e passar tempo até à tarde daquele dia de passeio perdido! Desde pirâmides com as bases para os copos a jogar ao “Stop”, já fazíamos de tudo um pouco, enfastiados… até que finalmente lá chega a altura de partir e partimos realmente. Não sem antes deixar no aeroporto um corta-unhas que só não passou nos raios-x à segunda vez, no check-in a meio da tarde. Parece que aquele aparato todo é mais para inglês ver… Já na Basílica de São Pedro, que visitámos duas vezes por nos termos esquecido de ver a Pietá, o segurança deixou passar a Filipa com uma faca, que trazíamos para cortar o pão que comprávamos no supermercado, da primeira vez e da segunda não!

Chegámos a Roma tarde, já de noite, e estava um autocarro perto da estação com uma máquina de vender bilhetes perto. Comprámos um bilhete e entrámos no autocarro, que nem condutor tinha e esperámos que fosse dar ao metro como supusemos pela escassa informação disponível. Fomos ter ao metro e daí à estação que nos indicavam na residência: Cavour.

Então foi procurar a tal residência número 201, mas só faltava mesmo era o número 201 naquela rua. Tinha sido tirado e estava pouco perceptível. Entrámos depois de alguma insistência e subimos as escadas que nos davam má impressão sobre o edifício. Quando ao ligarmos para a senhora responsável, lá percebemos que nos queria dizer que não tínhamos reserva! Mas como? Depois percebemos quando já em Maastricht vimos um e-mail de resposta ao nosso a informar que chegaríamos atrasados: a vossa reserva foi cancelada com sucesso!

Lá nos arranjou lugar para três numa residência 4€ mais cara, mas bastante melhor, onde podíamos ficar apenas os três, como suposto. Depois disseram-nos como se nada fosse que as reservas pela Internet não funcionam bem, que está tudo desactualizado!
Só connosco!

Mais haveria de acontecer. No regresso para Maastricht, começou pelo desafio inglório de tentar saber qual seria o melhor transporte para o aeroporto. Acabámos por comprar um bilhete de comboio, apesar de segunda-feira ter sido feriado e os transportes estarem bastante reduzidos na sua frequência. Havia pois um comboio às 6:25 que nos agradava e acordámos cedo para o apanharmos calmamente, sem stress. Dirigimo-nos às linhas e vemos indicações para o aeroporto que contradiziam a linha que devíamos ir. Na indecisão decidimos seguir as indicações para o aeroporto. A meio, aquela estação é monstruosa, reparámos que aquelas indicações eram para o aeroporto Leonardo Da Vinci e nós queríamos ir para o de Cimpiano! Voltámos para trás a correr e por pouco não perdíamos o comboio.

Ia devagar, estava tudo escuro, ainda de noite, e a certa altura pára, mas não pareceu uma estação, pois luz alguma se via. Perguntámos e uma senhora nos disse que Cimpiano era mais à frente. Para confirmar perguntámos novamente a um senhor que inspirava mais confiança e ele respondeu-nos que era ali, de facto. Rapidamente nos dirigimos à porta, mas antes que a pudéssemos abrir, o comboio entrou em movimento!

Fomos até à estação mais próxima que ficava a cerca de vinte minutos daquela, pois o comboio era directo, e esperámos por um no sentido inverso. As bilheteiras estavam fechadas, estava um frio de rachar na rua e aproveitámos para comer os pães que tínhamos comprado no dia anterior. Os bilhetes, apesar de obliterados, diziam-se válidos por 120 minutos. À confiança, mais não seja porque também não tínhamos onde comprar outros bilhetes, fomos no comboio que tardou a aparecer. Eis se não quando aparece o revisor e nos diz que aquele bilhete não era válido, era para outra zona (só até ao aeroporto), e que tínhamos de pagar uma multa! Cinco euros cada um por algo que não tínhamos a possibilidade de remediar!

Finalmente ao chegar à estação de comboios certa, o autocarro que de hora em hora fazia a ligação com o aeroporto já tinha partido e a hora do voo não permitia esperar pelo próximo. Táxi mais uma vez e mais uma vez 15€. Lá fomos buscar os documentos necessários e esperámos pelo anúncio de embarque olhando pela janela e pensando que desta vez pelo menos o voo não podia ser cancelado por mau tempo, pois estava um dia céu limpo maravilhoso… e bastante frio!

Como os imprevistos são isso mesmo, nem mesmo quando chegámos a terreno já familiar, à estação de Liége, as coisas correram como esperadas. Um ligeiro atraso do comboio onde seguíamos não nos permitiu apanhar o que fazia a ligação para Maastricht por um escasso minuto! Então mais hora tivemos nós de esperar, sentados num café a ver o tempo passar, numa viagem onde as peripécias estiveram presentes desde o princípio ao fim. Há dias de sorte!...

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