quinta-feira, março 04, 2004

Cantina

A cantina da faculdade de economia onde estudo tem uma reputação, digamos, não muito boa, como, aliás, a grande maioria das que polvilham todo o país. As filas intermináveis, as senhoras antipáticas que não deixam escolher o acompanhamento que queremos, a lentidão do atendimento e a comida que é pouca e de sabor algo duvidável não lhe conferem muitos pontos na classificação.

O engraçado é comparar esta versão com a de jantar lá. Não tem nada a ver e nem as pessoas parecem as mesmas. Quem está a servir-nos não está sob a pressão de ter que servir muitos alunos com fome e pressa. Então a conversa surge algo natural e enleante.

Estabelece-se uma relação de maior proximidade, pois os que lá jantam são menos que os que lá almoçam e quase sempre os mesmos. A senhora da caixa vende-me o bilhete e depois olha para as suas mãos e pergunta-me o que há-de fazer, pois já lhes tinha posto creme e continuavam encieiradas. A senhora que tirava as refeições, ao jantar é só uma para tudo, perguntou ao rapaz que ia à minha frente se já estava melhor da constipação e desejou-lhe as melhoras. Insistentemente dirigiram-se a uns calmeirões estrangeiros e sugeriram-lhes que repetissem a refeição, tal como todos os outros podiam fazer e muitos fizeram, pois a comida estava bastante razoável até.

Quando para colocar o tabuleiro no carrinho com diversas prateleiras tive de ir lá dentro à cozinha por não estar onde é costume, aparece uma senhora, a que estava a servir, a dizer que se tinha esquecido, pois era tanta coisa. Depois perguntou-me se tinha ficado bem. Ainda pensei que se estivesse a referir a algum exame ou prova de que eu não tive conhecimento que tinha realizado e ela teve. Mas não; estava era a perguntar-me se eu tinha ficado satisfeito, se estava boa a comida e se tinha gostado.

Elas gostam de saber, de comunicar... são pessoas de carne e osso que merecem todo o nosso respeito.

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