É bem verdade que não apreciamos devidamente o local onde vivemos, não prestamos a mesma atenção aos pormenores em que as pessoas de fora reparam, mesmo que já tenhamos passado imensas vezes por esses sítios.
Ontem, a Filipa Gallis, a prima Regina e as respectivas mães vieram a Leiria e aproveitaram para conhecer um pouco melhor a cidade.
A princípio fiquei preocupado por achar que não havia nada de especial para mostrar em Leiria e por parte da cidade estar em obras e outra estar à espera delas.
Numa breve lista mental de pontos de interesse surge em primeiro lugar a visita ao Castelo de Leiria, o ex-libris da cidade restaurado por Ernesto Korrodi e que, infelizmente, encerra às segundas-feiras.
A igreja mais antiga da cidade em honra de S. Pedro estava fechada, mas era possível ir buscar a chave à esquadra de Leiria da PSP, ali mesmo ao lado. Admirámos aquele edifício, reparámos em pormenores, testou-se a acústica pelo membro nº 1 do Eborae Mvsica, passámos por responsáveis pela igreja por convidarmos um casal a sair para podermos fechar a igreja e entregar a chave e ainda reparei que estava lá um pano usado numa vigília das promessas do Agrupamento de Sto. Agostinho em Março, onde ficaram marcadas as mãos de pais, escuteiros e dirigentes.
Seguindo pela íngreme, estreita e sinuosa rua calcetada fomos ter à Sé de Leiria. Para entrar no parque da Sé sem pagar tive de dizer era do agrupamento 127, quando sou do 1198! Na capela direita um pormenor curioso: a origem do símbolo da Federação Portuguesa de Futebol, que os jogadores da selecção nacional usam ao peito para dar sorte tem origem religiosa (foi até pedida uma autorização especial para o seu uso), estava numa estátua de Jesus. Fiquei a saber que os jardins dos claustros da Sé foram substituídos por pedra e o poço tapado com um vidro grosso, tornando aquele espaço amplo e vazio.
Pela Rua Direita, antes do Terreiro, compraram as tradicionais Brisas do Lis na pastelaria LuziClara, e então foram devoradas no largo boémio. Depois a Praça do Giraldo de Leiria: a Praça Rodigues Lobo, com a sugestação de despejo por foleirice da Sra. D. Gordalina. Um breve descanso e mais alguns pormenores: a casa do arco, a abandonada igreja da Misericórdia, a referência em azuleijo à primeira tipografia da Península Ibérica, o largo do gato preto, as estátuas do Lis e do Lena, o mercado Sant'Ana com uma obra de arte a simbolizar a rodilha que permitia levar os cântaros à cabeça, a igreja do Espírito Santo, que, pelos vistos, são raras e o local onde tinha estado o convento de Santa Ana. Aproveitando as festas populares, passámos na Batalha e em Aljubarrota.
Na Batalha os Clã estavam a fazer o sound check para o concerto nessa noite. O mosteiro já estava fechado, mas deu na mesma para observar imensos pormenores templários naquele monumento e de receber a lição nº 1 de espiritualidade. Deu ainda para apreciar de relance a igreja matriz e passar pela recém-restaurada medieva ponte do Boitaca.
Em Aljubarrota o ambiente tentava lembrar os tempos de há 621 anos, em que exactamente a 14 de Agosto de 1385 D. Nuno Álvares Pereira levava as tropas portuguesas a expulsar os castelhanos de Portugal. A padeira de Aljubarrota está eternizada numa estátua moderna de ferro em cima de um forno com 7 portas e aí perto estão afixados uns azulejos alusivos que referem sem piedade que a padeira era feia, ossuda e tinha seis dedos em cada mão. Desta figura visitámos com desilusão a casa onde tería supostamente nascido, abandonada e coberta por um silvado.
O ambiente nas ruas de Aljubarrota era muito interessante com muitas pessoas trajadas à época, em pequenas bancas a expôr artesanato ou em tascas a servir comida e bebida. Não resistimos às bifanas de carne de porco, que ao serem assadas eram varridas por um vassoura de folhas de louro mergulhada num molho especial, ficando a carne com o sabor do molho e do louro. Era engraçado deambular pelas ruas movimentadas de Aljubarrota a encenar o tempo de D. João I, Mestre de Avis. Foi mesmo representada a peça "Foi por bem!", alusiva aos amores de D. João I dentro da própria corte. Houve ainda uma tentativa, a melhorar em edições futuras, de exemplificar num terreno aberto algumas tácticas militares inovadoras aplicadas por D. Nuno Álvares Pereira e que permitiram a impressionante vitória lusa perante a tamanha massa de espanhois.
Finalmente, despedimo-nos e seguiram elas para Lisboa, eu para Leiria. Porém, antes parei na Batalha para ver o resto do concerto dos Clã. Encontrei logo lugar para o carro, ainda melhor do que durante a tarde quando havia menos movimento, e ao chegar ao recinto estavam a começar a cantar uma das minhas músicas preferidas dos Clã: "Problema de Expressão". A seguir a essa ainda tocaram mais umas quatro, mas já porque o público pediu muito, pois já passava da hora e meia de concerto estipulada no contracto. Valeu a pena. Foi um dia muito bem passado e interessante, onde conheci um pouco mais a minha própria cidade.
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